Crônicas do Cotidiano

Imagens inéditas do céu e do inferno

João Carlos Lopes dos Santos

As imagens vêm do meu dileto amigo Brumel Delano. Ele teve um piripaque qualquer e foi prestar contas dos seus atos.

No salão de triagem

Em lá chegando, não tinha a menor ideia de para onde iria. Ao seu lado, estavam sentadas duas mulheres que, como ele, tinham morrido. Apareceu, então, um gestor celestial e foi logo dizendo ao meu amigo Brumel que ele só poderia estar lá por engano e que esperasse os trâmites celestiais para o seu retorno ao mundo dos vivos.

A mulher, a que estava à sua direita, já tinha ido não se sabia para onde.

Ao seu redor, Brumel ouvia comentários de que a crise mundial estava levando as pessoas a sentirem inveja de quem já tinha batido as botas. Diziam que morrer não era tão ruim, que defunto não paga contas, não atura os chatos de plantão, além de ter os ouvidos moucos às mais diversas reclamações.
A mulher retorna radiante e reassume o lugar à sua direita. Concomitantemente, a da esquerda segue também para destino ignorado.

Uma das imagens do céu

A que retornou estava esfuziante. Tinha conhecido o céu, para onde iria.

Brumel, curioso, deu início ao diálogo:

_ E como é o céu?

_ É lindo, maravilhoso. Imagine uma cozinha de primeiro mundo, climatizada, completíssima. Ao lado, há um frigorífico e uma despensa também climatizada onde não falta nada, tem muito de tudo, de ovos caipiras coloridos a trufas negras francesas. Já me vejo preparando as mais deliciosas iguarias à espera dos meus queridos comensais.

Já adiantando a resposta, perguntou:

_ Você gosta muito de cozinhar, não é?

_ Eu não gostava... Depois que concluí que alimentar as pessoas era uma missão importante, assumi a cozinha com muito amor. Em qualquer atividade laboral há três prazeres que, quando presentes, se confundem: o de executá-la, o de ser útil aos demais e o de tirar dela o próprio sustento. O que era obrigação passou a ser o mais prazeroso dos hobbies. Cozinhar é apaixonante!

E o Brumel a escutar aquilo e pensar que jamais poderia imaginar que o céu fosse daquele jeito.

Ao som de trombetas, a mulher da direita se despediu desejando a todos a sorte que tivera.

Uma das imagens do inferno

Apavorada, retorna a mulher da esquerda e retoma a sua cadeira. Tinha conhecido o inferno, para onde iria em seguida.

Brumel, ainda mais curioso:

_ E como é o inferno?

_ É um terror! Imagine uma cozinha cheia de apetrechos e aparatos. Uma verdadeira sala de torturas! Ainda há, ao lado, uma enorme geladeira e uma despensa abarrotadas de mantimentos. Tem de tudo, não falta nada. Já me vejo ali, naquele suplício, cozinhando para um monte de gente e requentando a comida para os retardatários. Não vou aguentar...

Depois de um breve silêncio, Brumel concluiu que Deus, sendo Pai, sempre proporciona, igualmente, o melhor para todos os seus filhos. E deu sequência ao diálogo:

_ Pelo que concluo, você não gosta de cozinhar...

_ Detesto! Sempre temperei a comida com muito ódio, que extravasava batendo as portas dos armários e panelas. Premonitoriamente, quando era chegada a hora do sacrifício, dizia: lá vou eu para aquele inferno!

Brumel de volta ao nosso convívio

Ao me reportar a fabulosa epopeia, conhecendo bem o meu perfil entusiasta, sempre demonstrado no mais absoluto engajamento às várias atividades que tive ao longo da vida, sabendo ainda que trabalhar naquilo que se ama, para muitos, seja uma utopia, Brumel concluiu que:

Quando não se consegue o trabalho dos nossos sonhos, o jeito é transformar o trabalho que se consegue no mais risonho dos sonhos

Você não conhece o Brumel Delano?

É só clicar no link, que foi reformulado mais uma vez em 2021: O Rio de Janeiro que passou

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