Crônicas do Cotidiano

Cuspindo na chuva

João Carlos Lopes dos Santos


Esta crônica foi escrita em 2000 e, em 2011, quando a coloco no ar, continua atualíssima. No fundo, bem lá no fundo, quero saber se você age como eu agia até bem pouco tempo...

Se uma mercadoria qualquer está cara numa loja, provavelmente, você poderá comprá-la em outra: é só correr atrás do que julgar ser mais vantajoso.

Serviços inevitáveis

Contudo, há serviços dos quais vocês não poderão fugir – por serem únicos ou por não ser conveniente trocá-los a toda hora –, mas poderão se vingar do prestador do mau serviço. Tudo isso absolutamente dentro da lei, posto que, fundamentalmente, seja um legalista.

Se as suas contas de luz, gás, combustível, telefone, TV por assinatura, plano de saúde, juros e tarifas de serviços bancários ou de cartões de crédito, aumentam percentualmente muitas vezes mais do que você ganha, desculpe-me, mas você tem que passar a agir como eu.

Luz, gás e gasolina: estou evitando o desperdício. Conscientizei meus familiares. Por exemplo: é duro ver alguém sair de um cômodo deixando a luz ligada e passar a outro cômodo, digamos, para ler um jornal sem a necessária luminosidade, ou seja, preguiça de desligar e ligar as luzes. Sobre esse assunto, já dizia meu pai: quem não paga, não apaga. Diga sempre não ao desperdício.

Telefone: tínhamos em casa três linhas fixas. Uma nem era divulgada ou usada – servia ao computador antes de adotarmos a banda larga. Agora, fiquei só com duas: uma passou a receber e na outra procuramos falar racionalmente. Telefones não são brincos e fim de papo. Com uma linha recebendo e outra transmitindo, até controla-se melhor as contas. Já a terceira linha foi devolvida à prestadora do serviço. Concluí que, agora, diferentemente do passado, o quase impossível não é mais conseguir uma linha telefônica, mas devolvê-la à prestadora do serviço. Eles prometem de tudo para você continuar com ela. Depois, do nongentésimo ou "nogentésimo"NÃO, eles desligam o telefone.

TV por assinatura: atualmente, paga-se para ver televisão e eles nos enfiam olhos a dentro comerciais e merchandising. Se prescindir do serviço, provavelmente, a antena do meu edifício não me dará uma boa imagem dos canais convencionais. O prestador do serviço sabe disso e nos dá a boa imagem dos canais abertos e nos oferece outros produtos que, logicamente, temos que pagar para vê-los, juntamente com as matérias publicitárias que veiculam. Teria um grande prazer de rejeitá-los, mas nem sempre dá para ouvir o jogo de futebol pelo radinho, o que às vezes até acho bom, ou ir aos estádios assistir aos jogos que começam às 22 horas – isso sim é um grande absurdo! Aí não tem jeito, diante do inevitável estupro, contrato o ‘per pay view’, relaxo e gozo.

Plano e seguro de saúde: se o valor da mensalidade do seu plano ou seguro familiar de saúde é elevado ou se eles privilegiam a saúde financeira deles, quando puder, tire o seu dinheiro de lá e passe para outra instituição do ramo, mesmo já lhe garantindo que vai trocar seis por meia-dúzia. Uma dica: estava pagando para dois filhos maiores quando já estavam cobertos pelo plano da empresa onde trabalham. Estava jogando dinheiro no ralo. Não seria o seu caso?

Serviços bancários e cartões de crédito: à exceção da rede bancária – procure saber dos seus últimos bilionários balanços –, a grande maioria dos outros negócios vivem flertando com o vermelho. Tal penúria coletiva se converte em terreno fértil para que os banqueiros possam plantar o dinheiro alheio, colhendo tarifas e juros estratosféricos. Que grande negócio é o do banqueiro! Os correntistas pagam uma tarifa mensal para manterem as suas contas bancárias abertas e, sem nada receber, deixam o seu dinheiro, muitas vezes parado, nas mãos deles. Na pior das hipóteses, quando lá aplicamos dinheiro – caderneta de poupança, em nome da segurança –, os banqueiros nos pagam uma merreca: cerca de meio por cento ao mês ou como às vezes escuto no rádio do meu carro: "hoje, a poupança está rendendo zero vírgula quinhentos por cento". Pergunto: piada ou ironia? Quando entramos, por um dia que seja no cheque especial pagamos juros escorchantes. As tarifas bancárias no Plano Real, de 1994 para cá, subiram a patamares inimagináveis. No entanto, somos nós que aturamos as longas filas nas agências, operamos diretamente os caixas eletrônicos e ficamos pendurados nos bancos telefônicos da vida e, frise-se, pagando os pulsos telefônicos. E os bancos com suas folhas enxutíssimas de pagamento, fomentando o desemprego e aumentando as tarifas. Quanto insulto! Será que ninguém vê isso?

Sabe qual é a minha vingança? Uso os serviços bancários e cartões de crédito só na parte que me é agradável e, quando estou sendo estuprado por eles, corro rápido atrás do dinheiro para cobrir o cheque especial ou a conta do cartão. Além disso, converso sempre com os meus amigos e lhes conto, tão-somente, a verdade, sobre aqueles que me esfolam e me atendem mal, mesmo que eu esteja cuspindo na chuva.

Uma dica: não deixem de ler "O avesso do óbvio – um feedback para certos empresários", no link abaixo:
O avesso do óbvio (quem avisa, amigo é)

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