Crônicas do Cotidiano

A praga dos feriados

                          João Carlos Lopes dos Santos

É voz corrente que marido de mulher feia detesta feriado. Garanto-lhes que não é o meu caso, até porque trabalho em casa, mas o excesso de feriados atrapalha muito a minha vida. Nunca tive carteira de trabalho e, ao longo da minha existência, estive sempre desempregado. Hoje, sou aposentado pelo INSS e, ironicamente, jamais trabalhei tanto.

O ‘Nove de Julho’ paulista

Nem me venham comentar que no país tal é assim e noutro é assado, posto que não tenha o menor interesse pela vida dos outros, até porque os feriados deles não me atrapalham em nada. Mas o ‘Nove de Julho’ paulista, por exemplo, me atrapalha. Liguei para o escritório de advocacia paulistano, o telefone tocou, tocou, tocou e ninguém atendeu. Depois, a ficha caiu. Os cariocas nem sabem o porquê, mas naquele dia, em todo estado de São Paulo, é feriado. Comemoram, só lá, a Revolução Constitucionalista de 1932. Mesmo com essa informação, a esmagadora maioria dos demais brasileiros continuará se indagando a respeito. Mas, sendo feriado lá, fico aqui sem dar seguimento ao meu trabalho.

Feliz Metade do Ano!

Em julho de 2010, recebi uma mensagem eletrônica que me parabenizava: Feliz Metade do Ano! Que metade do ano, se ele ainda não começou? Natal, virada do Ano Novo, Carnaval, Semana Santa, “feriados” da Copa do Mundo de Futebol, tudo isso entremeado com feriadões, férias escolares e o escambau. Será que o ano de 2010 começará em agosto, com o fim das férias escolares? Ledo engano! Teremos ainda muitos feriados e as eleições de outubro, depois as apurações e, quem sabe, decepções. Aí, não dará mais para trabalhar, já que chegarão as festas do fim do ano, aqueles jantares engordativos, e tudo começará de novo.

O ‘Dia de Arariboia’

Volta e meia, ouço falar em novas datas comemorativas. Por exemplo, no chamado Grande Rio, há feriados em Niterói que não são comemorados no Rio de Janeiro e vice-versa. Isso, só com 20 minutos de barca ou de ponte para atravessar a poça. Muitas vezes, na Grande São Paulo, sem barcas ou pontes, mas às vezes com poças, você nem sabe em que cidade está, mas, naquele dia, ali debaixo dos seus pés, é feriado. Você se desloca e, em chegando ao tal município limítrofe, encontra tudo fechado. Para que não pairem dúvidas, no ‘Dia de Arariboia’, 22 de novembro, os niteroienses comemoram fundação da cidade.

A ‘Semana do Saco Cheio’

Olhem o que me reportou Roldão Simas, de Brasília, que consta da minha lista de ‘Amigos Parceiros da Internet’: “Aqui, em Brasília, os estudantes costumam comemorar o dia do professor - 15 de outubro - ‘enforcando’ logo a semana inteira, que tem o nome de Semana do Saco Cheio”. Trata-se da junção do feriado nacional de 12 de outubro, dedicado à Padroeira do Brasil, Nossa Senhora Aparecida, com o ‘Dia dos Mestres’, que é comemorado no dia 15 de outubro, que é só um feriado escolar, quando os professores, pela inconteste importância, merecem um feriado nacional. Nos outros dias daquela semana haveria aulas, mas com a complacência dos professores, que não marcam provas, ninguém aparece... Duvido que a ideia não se propague rapidamente por todo o país.

É isso aí...

Decerto, que tudo isso empata a vida de quem quer trabalhar. Mas o que se fazer, se a turma gosta mesmo é dos feriadões, das bolsas família e escola, dos vales transporte, gás e refeição, do seguro-desemprego, enfim, do assistencialismo imediato, sem qualquer ótica de futuro, que não busca a emancipação do assistido-carente, mas tão-somente a politicagem eleitoral. Muitos dos feriados fazem parte desse assistencialismo inconsequente. O povo gosta disso e os políticos, sempre ávidos por votos, adoram. Por outro lado, soube que a inadimplência aumentou neste primeiro semestre de 2010. Os cheques sem fundos dispararam, os cheques especiais e os cartões de crédito estão ainda mais no vermelho. O povo gosta de feriados, mas desconhece que é o trabalho que gera riqueza e lhe dá emprego.

Brasil, país das homenagens!

Tem dia para tudo. Nem vou citar os feriados para que não me tomem por preconceituoso, que não sou. Tudo bem, mas essas homenagens deveriam ser feitas nos sábados ou domingos. Vamos combinar: sábado e domingo não tem trabalho, tá? Mas de segunda à sexta-feira todo mundo no batente, falado? Por quê? Porque o feriado, em qualquer dia útil da semana, aniquila a semana de trabalho de muita gente. Eis aí uma bela sugestão à “laboriosa classe” dos políticos de Brasília e de todo o Brasil. E eu, aqui, com a minha mania de cuspir na chuva...

Pelo contrário, se algum deputado apresentar um projeto de lei para que todas as sextas-feiras sejam feriados nacionais, em comemoração ao “Dia da Pouca Vergonha”, nem vou fazer cara de espanto.

Seja qual for o dia em que você estiver lendo este desabafo, por via das dúvidas, receba os meus votos de FELIZ ANO NOVO!

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