Crônicas do Cotidiano

As mulheres das décadas de 1950/60

João Carlos Lopes dos Santos



Mulheres interessantes sempre existiram... Contudo, as mulheres interessantes das décadas de 1950/60 eram interessantes demais.


Século XIX para o XX

Na passagem do Século XIX para o XX, as mulheres eram de uma palidez mórbida. Estávamos no auge do Romantismo, movimento presente em todas as manifestações artísticas e, mormente, na literatura. O padrão de beleza exigia que as mulheres tivessem uma pele branca – daí as inseparáveis sombrinhas – e, por mais incrível que pareça, o fato de a mulher ter uma aparência tísica, enchia os homens de tesão. Esse era o padrão de beleza dominante até o final da década de 1930, quando eram comuns as grandes paixões envolvendo mulheres tuberculosas. Aliás, nessa época, por também conta dessa doença, a expectativa de vida estava em torno de 35 anos de idade. Daí uma mulher de 30 ser desdenhada com o título de balzaquiana – uma referência à obra de Honoré de Balzac, que escreveu ‘A mulher de 30 anos’. A morte chegava muito cedo. Um exemplo, entre muitos, foi Noel Rosa (1910–1927), autor de 259 composições musicais, ter morrido antes dos 27 anos vítima de tuberculose.


Anos 1940

Já nos anos 1940, mesmo sendo a época das gorduchas, quando, ao que me parece, se comia demais para evitar a tuberculose, a expectativa de vida era ali pelos 45 anos. Assim,uma mulher de 40, então chamada pejorativamente de quarentona, era considerada uma senhora de provecta idade, o que hoje, soa como um monumental absurdo. O licencioso Brumel Delano, me sopra agora no ouvido – totalmente fora do contexto – que 40 é o número que ele calça...

Na década de 1940, ainda se morria muito de tuberculose, pneumonia, gripe, febre amarela, apendicite, tifo, ‘nó nas tripas’ e vai por aí... Hoje, início do Século XXI, a expectativa de vida do brasileiro está chegando aos 75 anos. Bem, mas esse não é o tema desta crônica.


Ontem e hoje

Ainda encontramos mulheres – poucas e, me parece, em extinção – que fazem parte do time (team) ou do time (tempo) das mulheres das décadas de 1950/60, quando eram naturalmente bonitas, coradas ou bronzeadas, de cintura fina, pernas carnudas e bunda farta, as chamadas mulheres confortáveis. O meu amigo Brumel Delano volta a me soprar no ouvido que teve uma colega na escola que era chamada de ‘Tânia Júlia’, que se encaixa bem nesse perfil.


Academias de ginástica?

À época, havia apenas ginásios de educação-física, sendo o melhor exemplo a ACM – Associação Cristã de Moços, que ainda está localizada na Rua da Lapa, na parte central da capital do Rio de Janeiro. As mulheres da metade do Século XX precisavam de quase nada para serem bonitas e interessantes.Até 1970, se comia com mais qualidade nutricional e também se andava muito a pé. O uso do automóvel era raro e não se tinha o que comer na rua, à exceção dos poucos restaurantes, que fechavam cedo. Não havia comércio de fastfood e, a rigor, ninguém comia bobagens na rua.

Fazendo uma comparação, hoje se anda muito pouco e, nutricionalmente, se come muito mal, o que se procura corrigir nas academias de ginástica e nas cirurgias plásticas. Ainda há muitas mulheres interessantes, porém, em se comparando com as aqui em destaque, um pouco duras, exibindo tanquinhos, com corpos artificiais. Em compensação, vemos hoje mulheres com mais de 60 anos muitíssimo interessantes

Fica aqui o registro do meu testemunho e, para as mulheres, uma reflexão.

Observação: esta crônica foi escrita em 2002 e reescrita em 2017.



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