Crônicas de Nova Ipanema

O "Senhor" como tratamento de respeito

João Carlos Lopes dos Santos

Dias antes de completar 60 anos, cabeça branca, de terno e gravata, recebi o meu certificado de sócio do ‘clube da terceira idade’. Foi num vagão do trem do Metrô-Rio. Um rapaz com uns 17 anos, quando me viu, levantou-se e disse:

- Senhor, por favor, pode sentar no meu lugar.

Fiquei impactado, afinal, a gente sempre se julga um garotão, até que se depara com a realidade do espelho ou se encontra um amigo de infância. Porém, sob todos os aspectos, o episódio foi muito agradável e mereceu de mim um espontâneo sorriso.

Agradeci ao rapaz – há ainda quem eduque os filhos – e, nos dez minutos que separam as estações de Botafogo e Carioca, alinhavei esta crônica.

Voltei aos meus 18 anos

Servi à pátria na Primeira Companhia de Polícia do Exército, na Vila Militar. De pronto, todos os duzentos e poucos conscritos que incorporaram entraram para o curso de cabos, mas deles só três chegaram ao final. Trinta dias após, recebi as duas divisas. Resultado: daquele momento em diante, todos os soldados que incorporaram comigo passaram a me chamar de ‘senhor’...

Aconteceu em Nova Ipanema

Tempos atrás, o meu amigo e vizinho Armando Araújo Lima, tenente-coronel da reserva remunerada da Aeronáutica, estava comigo na sede social de Nova Ipanema quando chegou o Feres José, outro amigo e vizinho com quem o Lima ainda não tinha intimidade. Olha só o diálogo:

- Olá, Feres, tudo bem? Disse eu.

- Como vai o senhor? Disse o Lima.

- Tudo bem. Respondeu o Feres e, com o seu jeito tranquilo, seguiu o seu caminho.

E eu, estupefato, perguntei ao Lima:

- Lima, meu amigo, você chama o Feres de senhor? Ele tem menos idade que você...

- Mas, Joãozinho, ele é general...

- Que general, Lima... General é o apelido dele no mercado de capitais.

- Você está brincando?

Certo que se tratava de um general, sendo ele tenente-coronel da Aeronáutica, observou a hierarquia militar que o obrigava a chamar seu superior de senhor.

Batendo continência

Entre os civis menos avisados, o estereótipo de um oficial general é sempre o de uma pessoa austera. Contudo, a realidade é diametralmente oposta. Salvo raras exceções, os oficiais generais das três Forças são amáveis, já que educados, sensíveis, por serem cultos, e, por tudo isso, de ótimo relacionamento social. Além disso, jamais perdem o sentido do que é justo, da ordem e de que o respeito recíproco deve sempre estar presente, mesmo nas coisas do simples do cotidiano. E tanto o Feres como o Lima, se encaixam neste perfil.

E assim, por ter "physique et psychique de rôle" absolutamente verossímeis, quem precisar de um paisano para o papel, ninguém melhor que o nosso Feres para personificar um verdadeiro general, mormente, pelo semblante de inequívoca autoridade. Então, se estiver de boné ‘bico-de-pato’, com qualquer cor ou inscrição, não há militar que lhe negue a continência.

Hoje, com idade mais compatível, fica ainda mais difícil negar-lhe a patente que não tem. Ele me contou que, quando tinha uns quarenta e poucos anos, saindo de um elevador, uns amigos se dirigiram a ele chamando-o de general. Uma senhora, muito surpresa, lhe perguntou:

- O senhor, tão novo, já é general?

E o nosso Feres, apressado para o almoço com amigos, respondeu:

- É. Sou sim, senhora...

E ele me explicando:

- João, em tais circunstâncias, dava para explicar alguma coisa?

 

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