Crônicas de Nova Ipanema

Dois Socos no Peito

João Carlos Lopes dos Santos

É dispensável morar em Nova Ipanema para ser considerado um nova-ipanemense, basta amar e cuidar desse pedaço de chão. Isto posto, seguem elogios à trajetória de dois nova-ipanemenses que nos deixaram inestimáveis serviços prestados e muita saudade. Às duas famílias enlutadas, me arvorando em porta-voz de Nova Ipanema, segue também o nosso sentimento de perda. Pessoalmente, as notícias foram como dois socos no meu peito.

Diante dos nossos olhos

Se ainda não está a par, será oportuno acessar a crônica 'Diante dos nossos olhos'. Lá, faço menção indireta a vários heróis anônimos de Nova Ipanema e, como não poderia deixar de ser, aos dois homenageados desta crônica. Da sobredita crônica, não retiro hoje sequer uma vírgula, mas decerto incluiria atuais funcionários e prestadores de serviços diversos.

O Carlinhos do tênis

O nova-ipanemense Antônio Carlos Alves dos Santos (Teresina-PI 11/05/1969 – Rio de Janeiro-RJ 15/06/2019) partiu prematuramente aos 50 anos. Sua morte deixou a todos enlutados, mormente os nossos tenistas. Profissional competente, operoso, de comportamento indefectível,dedicadíssimo ao nosso tênis e um cozinheiro para ninguém botar defeito. Estava entre nós desde 1994: 25 anos! Portanto, nos dedicou a metade da sua existência.

Veladamente, o Carlinhos foi um dos citados na crônica ‘Diante dos nossos olhos’. Escrevi, lá em 2003: Se fosse tenista, já teria um candidato. Há alguns anos preparei um macarrão com camarão ao alho e óleo, lá no tênis, ajudado pela educação, generosidade e competência do mais antigo funcionário de lá. Se você o escolher, decerto, não cometerá injustiças.

O Severino do Edifício Henri Laurens

Há trinta anos, quando chegou por aqui, Biu tinha 18 anos de idade e chamava atenção pelos cabelos compridos à la Chitãozinho & Xororó. Penso que só os lá de casa o tratavam por Biu. Como seus conterrâneos paraibanos, à época, o chamavam assim, adotamos o simpático apelido. O interessante é que tive outro grande amigo chamado de Biu pelos seus conterrâneos paraibanos – uma das idiossincrasias nordestinas –, mas todos na casa dos meus pais o chamavam de Severino. No caso do aqui homenageado, para os lá de casa, a regra nordestina prevaleceu... Guarde o link, para ler depois 'Um dos muitos Severinos'.

O nova-ipanemense Biu nos deixou precocemente aos 48 anos. Faleceu subitamente jogando uma partida de futebol com seus amigos. Chamava-se Severino Luciano Rodrigues (Itabaiana-PB 17/09/1970 – Rio de Janeiro-RJ, 25/05/2019). Era um exemplo de honradez, coragem e honestidade no exercício de suas funções. A confiança que depositávamos nele nos permitia, numa eventualidade, deixar aos seus cuidados as chaves de nosso apartamento. A triste notícia nos impactou, exceto minha neta Isabella, hoje com 5 anos de idade, eis que ainda não saiba o porquê do sumiço do seu querido amigo.

Além de outros atos heroicos, que nossos vizinhos por certo terão para contar, destaco um trecho da crônica ‘Diante dos nossos olhos’: Os porteiros são gentis e ligadíssimos na segurança dos moradores. Um deles(lá não digo, mas foi o Biu), que já levou uma moradora em risco de vida para o hospital; em outra oportunidade, não se intimidou com um corpulento de boné que foi entrando à noite pela portaria sem se identificar e dizer para onde ia. Depois, constatou que tinha barrado uma grande personalidade do mundo esportivo. 

Quando nos encontrávamos, o monotema era o futebol: o Fluminense dele ou o meu Botafogo. Tive a oportunidade de me despedir dele no dia anterior ao de sua morte. Na portaria, minha nora Priscila foi avisada pelo Biu que todos lá de casa tinham saído. Então, ela nos encontrou pelo telefone celular e soube que estávamos no supermercado. Já tomando pé da situação, pediu que nos avisasse que o elevador de serviço estava em reparos e que, por isso, não parássemos o carro no subsolo, eis que os carrinhos já estivessem nos aguardando no térreo, próximo à portaria.

Chegamos e passamos os mantimentos para os carrinhos e nos dirigimos ao hall social. O Biu me abriu a porta e trocamos um efusivo aperto de mãos. O mote da conversa, então, foi o jogador do Fluminense João Pedro, de 17 anos, já negociado com o clube inglês Watford,  que tinha feito 6 gols nos últimos 3 jogos. Agora, percebo um outro sentido nas últimas palavras que lhe disse:

_ Biu, meu queridão, é pena que o garoto já está de partida...

Por outro ângulo, observem a coincidência: ele deixou um filho chamado João Pedro, de 17 anos, fato que só soube mais de um mês após à sua morte.

Please give me the bill

A minha neta Isabella, quando tinha um ano e oito meses, estava com os pais na Europa. Em um restaurante, terminada a refeição, meu filho Carlos Eduardo pediu a conta ao garçom: _ Please give me the bill.

Do alto dos seus 20 meses de vida, Isabella só entendeu a última palavra e, se lembrando do seu querido amigo, olhando risonhamente para seus pais, com o dedo indicador apontando para cima, exclamou: Biu! O Biu! O Biu! O Biu!

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