Crônicas de Nova Ipanema

Diante dos nossos olhos

João Carlos Lopes dos Santos

O essencial é invisível para os olhos. A sentença está lá no O Pequeno Príncipe de Antoine de Saint-Exupery. É uma realidade, já que não percebemos tesouros e, muitas vezes, neles até tropeçamos.

Mesmo que você não more em Nova Ipanema, não deixe de ler esta crônica, pois vai tirar dela muito proveito onde quer que more ou trabalhe.

Decerto, você vai achá-la laudatória, no que terá plena razão, mas concluirá que ela é absolutamente verdadeira. Reescrevo esta crônica depois de oito anos e, para a minha alegria, constato que quase nada mudou.

Nova Ipanema

Nova Ipanema é o primeiro condomínio intramuros da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Uma comunidade com cerca de 3.500 habitantes, que data de 1977. É o que poderíamos chamar uma grande família composta de moradores, ex-moradores, que espero que um dia retornem, visitantes, funcionários e prestadores de serviços diversos. Todos eles compõem a Nova antiga maneira de viver, a Ilha da Fantasia ou, como já escrevi, uma espécie de Principado de Mônaco, encravado na Barra da Tijuca.

A decisão será exclusivamente sua

Calcula-se que, ao todo, cerca de 200 pessoas trabalham para fazer Nova Ipanema funcionar e que, de uns tempos para cá, indubitavelmente, tem funcionado muitíssimo bem. Responda rápido:

1. O que você acha, como um todo, dos funcionários de Nova Ipanema?

2. Qual deles você elegeria como sendo o melhor funcionário?

Se sua escolha recaiu sobre algum funcionário do seu edifício, de outro edifício, da segurança, do serviço de portaria é que jamais funcionou tão bem como de uns anos para cá é, da marina, da balsa, da sauna, piscina, do ônibus, da administração, do porrinhódromo, do tênis, da jardinagem, qualquer uma pessoa que você tenha escolhido, acertou. De fato, é ela a melhor.

Chegando perto da perfeição

Tempos atrás, falava-se muito em segurança em nosso condomínio. Hoje, se comete a indelicadeza coletiva de não se tocar mais no assunto. Embora, também, ninguém se lembre dele, até 31 de maio de 2011, havia um gerente de segurança em Nova Ipanema muito competente. Você sabe o nome dele? Essa é outra indelicadeza coletiva. Mas, é assim mesmo, agente de segurança é como juiz de futebol, quando ninguém sabe o nome dele é sinal que está apitando o jogo muito bem. Ele nos deixou espontaneamente na sobredita data, mas lhes garanto que deixou a casa arrumada. Vai ser difícil, mas tomara que ele seja substituído à altura. Por ter sido discretíssimo ao longo dos anos em que montou e cuidou da nossa segurança, duvido que sua escolha já tenha recaído sobre ele ou um dos 75 agentes vigilantes. Agora, levantada a lebre, É possível que você altere a sua escolha.

O mesmo poder-se-ia dizer do serviço do nosso ônibus. Todos os motoristas e fiscais são excelentes. A minha escolha quase recaiu num funcionário desse setor. Tem um que joga nas onze e tem nome de craque de futebol, que desde menino vive entre nós. É um dos que simbolizam a total dedicação à Nova Ipanema e seus habitantes. Ele conhece, um a um, todos os moradores. É lógico que ele vai ser o eleito de muita gente.

No edifício Henri Laurens, onde moro, quem escolher? Tem um que trabalha de noite na garagem que chama o elevador enquanto o morador estaciona o carro. O outro, que também fica na garagem á noite, É do mesmo nével. Tem um porteiro que lá e comenta comigo todas as minhas crônicas. Outro é excelente administrador. O jardineiro me presenteia com cocos colhidos no nosso jardim. Os porteiros são gentis e ligadíssimos na segurança dos moradores. Um deles, que já levou uma moradora em risco de vida para o hospital, em outra oportunidade não se intimidou com um corpulento de boné que foi entrando à noite pela portaria sem se identificar e dizer para onde ia. Depois, constatou que tinha barrado uma grande personalidade do mundo esportivo. E vamos por aí, numa sequencia de candidatos fortíssimos que, com certeza, hão de ser escolhidos por muitos dos meus vizinhos. Mas, vamos adiante.

Se morasse no edifício Auguste Rodin, escolheria o jardineiro de lá. Tenho uma profunda admiração pelo trabalho dele. Trata-se de um grande jardineiro que nasceu com a estatura necessária para brilhar na sua profissão e, assim, ficar ali, quase invisível, misturado às suas plantas. Em todos os edifícios, garanto-lhes, há gente desse quilate, integrada à comunidade, que ama o seu trabalho. Faça a sua escolha.

Se fosse tenista, já teria um candidato. Há alguns anos preparei um macarrão com camarão ao alho e óleo, lá no tênis, ajudado pela educação, generosidade e competência do mais antigo funcionário de lá. Se você escolhê-lo, decerto, não cometerá injustiças.

No Porrinhódromo, havia um funcionário é agora substituído por sua nora com a mesma qualidade é que, além de todos os predicados, tem um caráter que lhe permitia, certas vezes, trabalhar com 20% da sua capacidade física, alegando que estava na faixa dos 95%... Será outra belíssima escolha é ele ou ela. Contudo, garanto, haverá quem venha a escolher uma das meninas da cozinha.

Na administração, há vários funcionários e funcionárias que serão, decerto, campeões de votos. Cuidando da sede esportiva e social, há dois fortíssimos candidatos. Duas pessoas certas no lugar certo.

Vocês não podem se esquecer dos professores das atividades esportivas. Eles ajudaram a criar nossos filhos e, agora, preparam os nossos netos para o futuro. Merecem um adjetivo: fundamentais! E o que falar do nosso médico? Conosco há muitos e muitos anos, ele encarna a figura do médico de família das pequenas cidades do interior: É amigo de todos os pacientes. O mesmo tenho a dizer sobre a nossa enfermeira. Eis aí dois grandes campeões de votos dos nova ipanemenses.

Alguns funcionários se foram de vez e outros podem ainda voltar. Fica aqui consignada a saudade eterna da Neide, a massagista de muitos dos antigos moradores. Por onde andará o Júlio da piscina, que ajudou a educar os nossos filhos? Isso, só para citar duas saudades.

Como surgiu a ideia desta crônica

Esta crônica veio à luz por força de dois fatos geradores concomitantes, ali pelo ano de 2003. Primeiro, por sugestão do meu amigo Waldemar Fiszman, que me pediu que escrevesse para o INFORMANDO de Nova Ipanema assuntos que dissessem respeito à nossa comunidade. O outro fato gerador foi a minha cunhada Lúcia que me perguntou quanto deveria pagar a certo funcionário do Henri Laurens, por ter ele lavado a bicicleta dela. Disse-lhe, de pronto: serviço prestado por ele não tem dinheiro que pague...

A minha escolha

Sem cometer injustiça com os demais, de vez que já disse que todos são excelentes e vocês conhecem a minha sinceridade, a minha escolha recaiu sobre um auxiliar de portaria admitido pelo edifício Henri Laurens em 10/7/1983. Sua conduta nesses longos anos, eu escrevi esta crônica em 9/4/2003 e a estou reescrevendo em 31/5/2011, vai de ato heróico, que posso lhes contar pessoalmente, até ao não menos heróico dia-a-dia irrepreensável das rotinas de trabalho.

Trabalhador humilde na acepção mais franciscana da palavra, pai e chefe de família exemplar que, independentemente de qualquer honraria ou reconhecimento, trabalha anonimamente com afinco, desprezando conscientemente as possibilidades de ascensão a patamares superiores. Embora auxiliar de portaria e com potencial para muito mais, faz questão de trabalhar onde julgarem que ele pode ser mais útil. Em seu semblante, não se vê puxa-saquismo ou quaisquer outros tipos de interesse, que não seja o de servir ao próximo. Se você está duvidando, é porque não o conhece.

A luta da Dona Terezinha


O meu escolhido tem berço de honradez. Além dele, conheço o caráter de seus três irmãos que trabalham em Nova Ipanema. Sem dúvida, trata-se de uma família que, muitíssimo bem estruturada, deu excelentes frutos. Vocês já vão lembrar-se deles. Os quatro irmãos formam o grupo musical de forró Severino e seu Conjunto, que atuava nas nossas festas juninas, a mais afamada festa da Barra da Tijuca.

Na carrocinha de pipoca e milho verde, que vemos à porta do Colégio Anglo-Americano, trabalham dois irmãos dele e um amigo de infância dos quatro, Valdomiro, que é funcionário exemplar do Henri Laurens. Vocês não imaginam como é importante a presença deles ali, convivendo com as nossas crianças à porta da escola há muitos anos. Venderam pipoca e milho verde para os meus filhos e, agora, a freguesa é a minha neta Joana. São essas as tais coisas invisíveis para os olhos, sobre as quais me referi na primeira linha desta crônica.

Pesquisando, descobri que a mãe do meu homenageado, Dona Terezinha, ficou viúva com treze crianças para alimentar: oito meninas e cinco meninos. O meu personagem é o penúltimo da prole, tinha três anos quando o pai faleceu. Luiz, o caçula, tinha seis meses. Dona Terezinha trabalhava 12 horas por dia na agricultura para dar o que comer a treze bocas. Passaram por momentos difíceis.

O que me impressiona não é, apenas, o fato de tê-los criado sozinha, mas por ter dado ao mundo treze pessoas de bem. Hoje, pesquisei, há testemunhos de que todos os seus filhos e filhas têm o reconhecimento e o bem querer de suas comunidades. Vide os quatro exemplos que temos em Nova Ipanema.

Quem é ele?

O meu forte abraço de reconhecimento vai para o meu AMIGO José Herculano Gomes, filho do casal Pedro Herculano Gomes e Terezinha Silvino da Silva, que nasceu em 6/3/1960, no Sítio Salvador Gomes, Município de Jacaraí, próximo da Cidade de Rio Tinto, na Paraíba. Trata-se do marido da Maria José, pai da Tatiane, irmão do Severino, do Antônio e do Luiz, que são excelentes candidatos para ser o seu escolhido. Severino trabalhou na construção do Colégio Anglo-Americano de Nova Ipanema e continua lá como seu funcionário, trabalha lá desde 1979. Entre outras atividades, ele fica na porta do colégio nos inícios e finais de turnos observando quem traz e pega as crianças no final das aulas. Antônio está também entre nós desde 1979, a princípio no colégio, depois no Henri Laurens e, depois, voltou ao Anglo-Americano, onde hoje é motorista do ônibus escolar. Luiz, que trabalha no edifício Marino Marini, já está por aqui desde 1986.

Lenita, João Carlos Filho e Paula, Carlos Eduardo e Priscila, minhas netas Joana e Raquel, meu sogro Waldir Ferreira Neves e a minha cunhada Lúcia Brandão Neves se unem nesta crônica, para tornar meus votos de paz, saúde, felicidade e prosperidade ao nosso querido Zé, extensivos aos filhos, filhas, genros, noras, netos, netas, bisnetos e bisnetas da nossa, agora, saudosa Dona Terezinha. No dia 25 de janeiro de 2008, Dona Terezinha Silvino da Silva, aos 78 anos, faleceu no Sítio Salvador Gomes, Município de Jacaraí, na Paraíba, deixando enlutados uma imensa família e muitos amigos, entre os quais eu e minha família nos incluímos.

Agora, meu caro leitor, é a sua vez. Escolha o seu funcionário, mas não precisa ser publicamente. Não estou defendendo uma pesquisa de opinião a respeito do assunto. Também, não se trata de dar ao seu escolhido uma gratificação ou um presente qualquer. Quando encontrar o seu escolhido ou escolhida, basta lhe apertar a mão e lhe dar um abraço de reconhecimento.

Esta crônica é uma homenagem a todos os funcionários e prestadores de serviços, internos e externos, que fazem de Nova Ipanema uma ilha de tranquilidade, num mundo hoje tão conturbado.



Dona Terezinha


Severino (na sanfona) e Luiz (na zabumba)


Dona Terezinha, à porta de sua casa


Meu homenageado, José Herculano Gomes,
na companhia de sua mãe, Dona Terezinha


Da esquerda para a direita: José, em companhia
de seus irmãos Severino, Luiz e Antônio

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