Acompanhando o Mercado

Como se pode perceber que uma pintura é falsa?.

João Carlos Lopes dos Santos


Volta e meia, me deparo a pergunta: como, diante de duas pinturas praticamente com o mesmo estilo, se pode detectar que uma é falsa e outra é verdadeira?

Para esse tipo de pergunta recorrente, já tenho uma resposta pronta, calcada numa experiência social e não profissional de mercado. Já há algum tempo, no clube que frequento, estava a conversar com um amigo, quando apareceu um garoto de uns 15 anos, suado do futebol, sem camisa, calção preto e calçando tênis.

Pergunta o garoto:

_ Pai, a minha grana?

Incontinenti, o pai tira do bolso uma nota de R$ 50,00 e dá ao garoto.

A conversa continua e, uns cinco minutos depois, volta o mesmo garoto, ainda suado, sem camisa, calção preto e calçando tênis.

_ Pai, a minha grana?

Mais uma vez, o pai tira do bolso uma nota de R$ 50,00 e dá ao garoto.

O garoto saiu correndo e eu alertei o amigo:

_ Você já tinha dado R$ 50,00 a ele...

Ao que o amigo me responde:

_ Eles enganam a todos, menos a mim e a mãe deles. Esse é irmão gêmeo univitelino do outro...

O mesmo ocorre na comparação de pinturas falsas com verdadeiras. Quem tem vivência diuturna com o contexto da obra de um artista não se confunde. Quanto mais longa for a vivência mais se saberá a respeito. Assim, somente com longa vivência com a obra do pintor e, mormente, vê-lo muitas a pintar, é que podemos nos doutorar na obra daquele artista.


Como se acautelar, quanto às falsificações de pinturas?

No Manual do Mercado de arte e até em outro artigo técnico deste website, possivelmente com outras palavras, está escrito:o irlandês Oscar Wilde (1854-1900), um dos grandes expoentes da literatura inglesa, afirmou que "só o idiota não se deixa guiar pelas aparências". Portanto, as pessoas, antes de comprar obras de arte, têm de desconfiar se o preço estiver muito abaixo do de mercado. Desconfie de quadros que não tenham origens comprovadas ou provenientes de lugares que não têm tradição. Quadro bom é aquele que tem histórico, cujo caminho percorrido se consegue refazer, até chegar a uma reprodução fotográfica em um convite ou catálogo de uma casa de leilão acreditada, a um registro de uma galeria de arte de prestígio ou do ateliê do artista. Contudo, há que se ter o cuidado de observar bem as fotos neles constantes, já que, com os favores do computador, esses catálogos podem ser adulterados, com relativa facilidade, com o enxerto de fotos de pinturas falsas, tática muito usada pelos pilantras que costuma levar o incauto à plena convicção da autenticidade da obra. Não se deixe levar por histórias da carochinha, como a de um dono de quadro que está precisando de dinheiro vivo com urgência, ou que não pode aparecer na transação porque tem problemas com o fisco. Pesquise. Procure saber, também, a origem dos laudos de expertise e dos certificados de origem que, nessas ocasiões, costumam acompanhar os quadros – como é sabido, também há laudos falsos. Quem estiver interessado em comprar obras de arte, principalmente nessas circunstâncias, deve procurar um profissional de sua inteira confiança para que o assessore, a fim de que ele possa verificar a idoneidade e a tradição de quem lhe está oferecendo o negócio, como também, quanto a autenticidade, procedência, estado de conservação e a relação qualidade/preço da obra.

Aos afoitos, aos "anjinhos" e até aos metidos a espertos – aqueles que pensam que estão enganando os outros, mas são eles os enganados –, vão aí três conselhos para, se não evitar, minimizar os riscos de se comprar falsificações:

  • se você não conhece bem o conjunto da obra do artista, só compre de um marchand que seja conhecido pela competência e honestidade;
  • se você não conhece bem quem lhe está vendendo, só adquira obras de artista que você conheça bem;
  • se você não conhece bem o conjunto da obra do artista, tampouco quem está lhe vendendo, por maior e melhor que lhe pareça a oportunidade, não compre.

Diante da menor dúvida, não compre. Procure um profissional que o assessore e que você conheça bem. Contudo, é fundamental que o assessor entenda, de fato, do conjunto da obra daquele artista em que você está interessado. Não existe ninguém que entenda de tudo. Se aplicado ao mercado de arte, discordo do ditado popular que diz: “Pretensão e água benta não fazem mal a ninguém”.No caso do marchand que se diz apto a detectar qualquer tipo de falsificação de pintura, a pretensão pode fazer muito mal...


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