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Arte contemporânea: afinal, o que é isso?

João Carlos Lopes dos Santos


Por definição, contemporâneo é o que ou aquele que é do mesmo tempo, que existiu ou viveu na mesma época, ou que é do tempo atual. A arte contemporânea é sempre um assunto momentoso e recorrentemente debatido em todos os simpósios e bienais sobre arte. Provavelmente, é essa discussão que a alimenta em todo o mundo.

A partir da segunda metade do século XX, quando se constatou que a arte que se produzia nada mais tinha a ver com o que se fazia na primeira metade daquele século, se começou a rotular aquela tendência de arte contemporânea e ela está aí por todo o mundo, até os dias de hoje. Foi então que os artistas plásticos do movimento contemporâneo abandonaram a representação da realidade, dizendo-a absolutamente falida. Passaram a discutir suportes, a defender que a composição de cores e formas por si só era uma obra de arte, defendendo ainda a prevalência das ideias, desprezando a materialização das obras. Começa aí a confusão, já que tudo passou a ser chamado de arte e a grande maioria das pessoas – o povo também tem o direito de opinar – duvida que certas obras chamadas de contemporâneas sejam realmente arte.

 A principal característica da arte contemporânea é o abandono dos suportes tradicionais. Com o abandono da tela, do bronze e do mármore surgiram outros suportes e, depois, simplesmente foram abolidos por alguns ditos contemporâneos. A arte conceitual dos anos de 1960, que talvez tenha consolidado o processo, passou a trabalhar mais com a cabeça do que com as mãos. Vide os exemplos das obras de Lygia Clark (1920-1988) e de Hélio Oiticica (1937-1980). A partir deles, passamos a ter muitas ideias e poucas obras, o que, em termos de demanda no mercado, é muito bom, já que com a diminuição da oferta a procura aumenta. A arte chamada arte contemporânea eclodiu mundialmente nessa época, está aí e, depois de tantos anos, ainda é recorrentemente discutida e entendida por poucos.
Pergunte a Affonso Romano de Sant’Anna (1937), reconhecido poeta e escritor mineiro radicado no Rio de Janeiro, que escreveu a crônica‘Arte: Equívoco Alarmante’, publicada no jornal ‘O Globo’ em 29/12/2001, onde se lê:Sobretudo nas chamadas "artes plásticas", nos últimos anos tornou-se evidente um fosso entre o público e as obras apresentadas como artísticas. Diz lá, ainda, Affonso Romano de Sant’Anna:A isto se soma o fato de que não apenas entre os artistas que ocupam espaço na mesma contemporaneidade existe essa negação, mas também muitos intelectuais, igualmente importantes dentro da chamada modernidade não reconhecem em muitas das obras hoje apresentadas em galerias e museus o caráter de inovação ou de criatividade artística. Portanto, estamos diante de um fenômeno insólito e perturbador dentro das relações sócio-artísticas.

 A respeito dessa crônica, houve muita gente que, à boca pequena, concordando com o seu teor, argumentava que tinha medo de dizer que não entendia a arte contemporânea para não passar por ignorante. À época, 2001, a mencionada crônica estremeceu certos alicerces, já que Affonso Romano de Sant’Anna é um intelectual respeitado. Algumas obras consigo entender e outras não, mas isso não é importante, até porque, todos sabem que a matéria que estudo é o mercado de arte.

 Para quem não sabe, a arte contemporânea é aquela que tem a ver mais com o mundo virtual, a exemplo das instalações e performances. Por serem muitas vezes efêmeras, as obras têm que ser documentadas fotograficamente para que se cristalizem e possam provar à posteridade terem um dia existido. Acredito, até por força do questionamento recorrente, que a arte contemporânea fique ainda por algum tempo e, depois, passe o cetro, como os demais movimentos passaram, a outras tendências artísticas, quem sabe até voltando à moda as técnicas tradicionais da pintura, escultura e gravura, que, revigoradas, um dia poderão voltar com toda força, com seus cavaletes, paletas, pincéis ou bronzes, mármores e cinzéis, sem que isso possa ser chamado de retrocesso, tampouco de utópico. O mundo dá muitas voltas...

Obviamente, a maioria dos artistas que produz arte atualmente não usa a linguagem rotulada de contemporânea. No entanto, comungo da opinião daqueles que pregam que a produção artística sempre tem que ser contemporânea em relação à época em que foi produzida e, de preferência, estar inserida no contexto do lugar em que foi executada e, mormente, ser produto de reconhecida criatividade. Para mim, não é a obra de arte que tem que parecer contemporânea, são os artistas que têm de ter o coração contemporâneo e o pensamento na atualidade.

Por falar nisso, só acredito em artistas plásticos que saibam desenhar, acadêmica e perfeitamente, pedras, mãos e pães, que saibam moldar uma cabeça de um ancião, que dominem suas paletas e cinzéis com autoridade de mestre. Para mim, quem passar por esse crivo é de fato ARTISTA, com todas as letras maiúsculas, e poderá fazer qualquer absurdo criativo, um simples rabisco, que será chamado por mim de obra de arte.   

Prevejo uma saia justa para aqueles que teorizam o mundo das artes, diante da pergunta: que nome terá o movimento artístico que virá após a arte contemporânea? Será arte pós-contemporânea? Já notou o absurdo, meu caro leitor? 

Na minha ótica, a arte contemporânea existe desde o tempo das cavernas. A arte rupestre foi contemporânea. A arte pré-colombiana foi contemporânea. A arte acadêmica do século XIX foi contemporânea. A arte moderna foi contemporânea. Toda arte que tenha participado dos movimentos de sua época decerto foi contemporânea. Conclui-se, então, que o homem pré-histórico, o índio pré-colombiano, que João Baptista da Costa (1865-1926) e Tarsila do Amaral (1886-1973) fizeram também a mais pura arte contemporânea.

Ademais, só gosto do que gosto e sobre o mote deste artigo que cada um tire suas conclusões.

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